Cultura do imediatismo pode atrapalhar rendimento escolar


A vida moderna trouxe com ela a agilidade, a praticidade e a pressa. Tudo é para ontem, é prioridade, é agora. Esse ritmo é tão acelerado que fica difícil encontrar alguém que não tenha a sensação de que tudo precisa ser feito ou estar pronto imediatamente. E ela é ainda mais angustiante para quem vive nos grandes centros urbanos. Um conceito popularizado em 2013, no livro “Choque do Presente: Quando Tudo Acontece Agora”, escrito por Douglas Rushkoff, alerta para o comportamento ansioso progressivo da sociedade moderna, chamado de "cultura do imediatismo".

Especialistas acreditam que um dos principais motivos desse imediatismo coletivo tenha sido o avanço da tecnologia. Afinal, nunca na história a humanidade conseguiu fazer tantas coisas, produzir tanto em tão pouco tempo. E como a escola é um recorte da sociedade, professores e alunos também convivem com as consequências sociais e emocionais impostas dessa pressa sem tamanho. Segundo o autor, esse fenômeno é causado pela massificação dos meios eletrônicos de comunicação. Afinal, com a internet, tudo passou a ser para ontem e de alta prioridade. Só que esse imediatismo pode trazer impactos negativos para a vida em sociedade e para a vida escolar.

Para a psicóloga Janete Knapik, mestre em Administração, doutoranda em Psicologia e professora do curso de Psicologia da Universidade Positivo, a cultura do imediatismo tem impacto direto na saúde mental. “Ela contribui bastante para o aumento da ansiedade por resultados. E quando esses resultados não acontecem na hora e como o indivíduo gostaria, isso pode ser uma porta de entrada para uma depressão”, alerta. “Tudo isso porque nem sempre a pessoa aprende a lidar com a frustração de não ter o resultado na hora ou mesmo de não conseguir o resultado esperado”, explica a psicóloga.

A pandemia intensificou o processo de imediatismo

Se antes da pandemia, todos ou, pelo menos, a maioria das pessoas saía de casa para trabalhar e resolver problemas, a partir de março de 2020, de uma hora para outra, teve-se que aprender a usar as telas para tudo: do trabalho às compras do supermercado, à feira, à farmácia, aos encontros com a família, aos estudos, às consultas médicas. A TV foi trocada pelas telas do computador e do smartphone. “Mas o que acontece com o imediatismo na internet é que ela é uma terra do imaginário, onde tudo pode e tudo acontece. E quando não acontece do jeito que eu quero, eu vou lá e cancelo, eu bloqueio. Eu não lido mais com as frustrações”, detalha Vera Lúcia da Silva Alves, psicanalista, psicóloga, professora, especialista em saúde mental, mestre e doutora em Filosofia.

“Eu simplesmente vou abandonando as coisas e as pessoas pelo caminho que não são iguais a mim, aquelas que não dão o que eu espero, o que eu desejo. Assim, vamos criando intolerância às diferenças, aos pensamentos. As pessoas vão vivendo em um espaço imaginário de grande ilusão, onde elas vão se tornando ainda mais isoladas no seu próprio mundo simbólico. Com isso, as relações se tornam cada vez mais superficiais – elas não têm tempo para reflexão, para adquirir conhecimento. Esse tempo de troca. Por isso, acredito que a pandemia contribuiu para que ficássemos mais intolerantes, imediatistas e superficiais nas relações”, complementa.

Como afastar o imediatismo da sala de aula

Sob a perspectiva Piagetiana, todo ser humano tem os seguintes mecanismos de aprendizagem: assimilação, acomodação e equilibração. A assimilação é uma introdução ao conhecimento. A acomodação é quando a pessoa exerce sobre o conhecimento uma ação; e a equilibração é quando o conhecimento está pronto para ser utilizado. Os professores podem usar a internet e as redes sociais como um recurso didático valioso no processo ensino-aprendizado. Afinal, toda criança precisa de um tempo para fazer essa acomodação. Mas eles podem se orientar pelos ensinamentos de Piaget, seguindo a indicação de cada estágio que a criança está no processo de aprendizagem.

Segundo especialistas, levando em conta a idade cronológica, o ideal é que os professores façam essa acomodação do conhecimento com as crianças de forma motora. Ou seja, usar menos as referências digitais e mais ações sobre os conhecimentos em si. “Pode ser um exercício, uma brincadeira, uma atividade lúdica para a criança poder se apropriar daquilo que viu. E não passar para outro conteúdo rapidamente, sem ter tempo de se apropriar, refletir e usar o conteúdo aprendido em outros lugares”, orienta Vera Lúcia.

Janete Knapik e Vera Lúcia da Silva Alves são as convidadas do episódio #55 do podcast PodAprender, cujo tema é “Como a cultura do imediatismo impacta a escola”, produzido pela Aprende Brasil Educação. Todos os episódios do PodAprender estão disponíveis gratuitamente no site do Sistema de Ensino Aprende Brasil (sistemaaprendebrasil.com.br), nas plataformas Spotify, Deezer, Apple Podcasts, Google Podcasts e nos principais agregadores de podcasts do Brasil. O PodAprender dará uma pausa e voltará em fevereiro de 2023.

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