Carbono 14

Exposição aproxima a estética científica à  abordagens sensíveis das paisagens paranaense e brasileira.

Conhecido pela grande fascinação que tem pela natureza, assim como a sua disposição aberta à viagem e à experiência da paisagem, o artista plástico Marcelo Moscheta vai apresentar a exposição individual Carbono 14 na SIM Galeria, a partir do dia 18 de junho. A mostra é composta por pesquisas que tratam da ordenação e classificação da paisagem, aproximando a estética científica, como gráficos e nomenclaturas específicas, à leituras e abordagens sensíveis da flora paranaense e brasileira. A exposição reúne fotografias, desenhos e instalações.


A obra Linnaeus, que faz referência a Carolus Linnaeus - o pai da classificação científica - é um trabalho feito à quatro mãos. Em 2011, Marcelo viajou com o pai, que é botânico, para a Amazônia, onde  produziram a obra baseada na nomenclatura científica dos vegetais amazônicos. Linnaeus é formada por caixas de arquivos vazias com etiquetas indicando espécies científicas da Floresta Amazônica. "A ideia é retratar que o mundo natural foi criado para que o homem pudesse reordená-lo. A obra gira em torno do conceito da intermediação humana na natureza através de métodos científicos", explica Moscheta. As etiquetas foram identificadas com  a escrita do pai de Marcelo Moscheta.


Carbono 14,  série que batiza a exposição, traz desenhos de árvores brasileiras em papel carbono. Os desenhos no carbono foram transferidos para outro papel, e o que restou no carbono é uma sombra, uma subtração do desenho, como uma imagem feita por radiação. "Gosto da forma como a Ciência organiza as coisas, classifica a paisagem no entorno", define o artista. A exposição ainda é formada por três obras únicas: Propriedade, Batismo e Biblioteca Cromo-agronômica. De acordo com Paulo Miyada, curador do Instituto Tomie Ohtake (São Paulo) -  e autor do texto de apresentação sobre a exposição Carbono 14 - esta última obra foi criada com tabelas apropriadas e destacadas diretamente das páginas da enciclopédia de jardinagem da coleção Biblioteca Agronômica,'como uma forma do artista apresentar sua insuficiência diante da ilimitada complexidade da natureza'.
 A referência à paisagem paranaense ganha corpo em duas séries: A.A.A. (Arquivo Araucária Angustifolia) e Bicho do Paraná. A primeira, A.A.A., resulta do tratamento minucioso da fotografia como forma de análise de um objeto que se torna quase irreconhecível, sobrepujado pelo volume das fotos dispostas como absurdas fichas de catalogação ou gavetas de ficheiro.


Já na série Bicho do Paraná, as intervenções de guache e colagem feitas por Moscheta sobre suas fotografias de araucárias refletem um caráter artificioso na expansão desse símbolo regional. Além disso, enfatiza a geometria intrínseca da árvore e faz uma paródia do próprio espírito progressista que quer projetar sobre toda natureza uma intencionalidade que, a rigor, é totalmente estranha à vida das plantas. "Colei réguas e compassos, transferidores e escalas sobre as imagens, para depois fazer uma intervenção com guache e criar uma relação de construção formal com a geometria das árvores, acrescentando anotações de esquemas", informa Moscheta.
"Nessa série, juntei a  ideia da disseminação das árvores de araucárias pelos índios da tradição Gê - dá a entender que foi planejada sua ocupação pelos campos do Sul do país - a uma música que ouvia na TV quando era criança, em Maringá, a propaganda da emissora mostrava sempre uma cidade paranaense e depois uma araucária, construindo uma imagem referencial da cultura local sempre ligada à esse ícone estadual. E na música do João Lopes, o refrão cantava: 'eu não sou gato de Ipanema, sou bicho do Paraná'", conta o artista.

Serviço:
Exposição Carbono 14, individual de Marcelo Moscheta
Local: SIM Galeria  (Alameda Presidente Taunay, 130 A - Batel - Curitiba, PR). Telefone: (41) 3322-1818
Período: de 18 de junho a 1º de agosto de 2015
Horário de visitação: de segunda a sexta, das 10h às 19h; sábado, das 10h às 15h
www.simgaleria.com
info@simgaleria.com

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