O mestre de arranjos e interpretações fortes e singelas, um dos maiores nomes da cena musical paranaense, João Gilberto “Tatára” finalmente receberá uma homenagem à sua altura. Ela chega inicialmente em formato de um álbum com 13 músicas compostas pelo poeta e compositor, militante da música há mais de 40 anos. Todas foram gravadas por intérpretes que são presença comum na segunda autoral do Bardo Tatára, evento criado há cinco anos na Avenida dos Estados, 810, Água Verde.
Para quem não conhece, trata-se de um espaço democrático, onde compositores (curitibanos ou não) têm a oportunidade de subir ao palco e apresentar suas obras para um público exigente e empolgado com as diferentes vertentes musicais que por ali passa, organizado sob a louca batuta do mestre Tatára.
Sobre o CD, na verdade ele é apenas o começo de um projeto maior, também batizado de “Curitiba Canta Tatára”, que surgiu da iniciativa de músicos, parceiros e amigos. Seu pré-lançamento será nesta quarta-feira, dia 19, no próprio Bardo Tatára, das 20h às 21h30 para a imprensa, músicos convidados e intérpretes do CD. Em seguida, o bar abrirá normalmente ao público em geral com pocket shows apresentados pelos intérpretes do CD Curitiba Canta Tatára.
Na noite, a renda obtida através da venda dos CDs viabilizará seu futuro lançamento, bem como dará continuidade ao projeto, que pretende incluir a gravação de clipes e montagem de festival com músicas do Bardo, como também é chamado o poeta e compositor. O álbum será vendido pelo preço simbólico de R$ 10,00, também através do emailbardotatara@yahoo.com.br.
“Curitiba Canta Tatára” – Volume 01
Do baião-lamento ao reggae; do dueto romântico ao rock inspirado, o que não falta neste trabalho é criatividade. Do tipo que alça voos de rapina, não pela força do mercado, mas pela pureza da criação. Um trabalho impecável do produtor e diretor musical Fábio Lima e dos demais produtores, João Gilberto Tatára Filho, Marcelo Pulga João, Gil Gabriel e Alexandre Trauer, que fizeram de cada canção um espelho, respeitando estilos e individualidades, que refletiu o que saiu da mente do autor. Cabeça esta que nos guarda surpresas, inclusive.
Numa delas, Ivanio Lira e violinos desfilam alegria - com aquela pitada crítica - num "Country Diferuente". Acredite, escutando-a se tem a vontade de sair dançando, estalando os dedos. Alegre surpresa também na versão de "Romance na Cidade Cinzenta", versada por Daio Baroni, que empresta a ela um quê de Clube da Esquina. Sem falar do trovão que é a voz de Francine Rickert, em "Réquiem para Ana Paula"; ou do coral sobrenatural no arranjo de "Alucinação", cantada por Ivan Correa; ou do "Rock do Filósofo", defendida por Paulo Paim, que poderia perfeitamente servir de trilha para um faroeste de Tarantino.
Jordana Solleti - e seu brilhante toque em Lado Feminino; Igor Menezes, um aracajuano repleno de curitibanices e encantos pela terra do pinhão; Rafa Gomes, Rafiusk e Sérgio Pena, além dos já citados, emprestaram tanta alma a esse projeto que é tolice querer descrevê-lo. Para ser sincero, estas 13 delícias são apenas uma pequena parcela de João Gilberto Tatára, que compôs às centenas, inclusive em parcerias.
Um breve espectro da aura e da obra de um dos maiores artistas do país. Uma a uma, as composições ali presentes dão a certeza de que as cinzas e curitibanas barbas de João Gilberto Tatára pensam cada palavra de suas letras exaltando a sonoridade e a inventividade. Uma poesia poderosa, mas que não se dissocia dos acordes e melodias, sem os quais seria uma mera janela cujo sol teimaria em entrar.
Sobre o João Gilberto Tatára - Com mais de 800 músicas compostas e dois discos gravados, “Jogo de Espelhos” e “Águas do Futuro”, este último em parceria com o inseparável multi-instrumentista Romano Nunes Cabelo, Tatára sempre alimentou a vontade de ver a música e os músicos curitibanos participando efetivamente do cenário musical brasileiro.
Tatára teve seu primeiro violão fabricado a partir de uma caixa de maçã por seu irmão Victor Hugo. Compôs sua primeira música aos quinze anos, incentivado por sua mãe, que lhe deu a frase “Teu passado é meu defeito”. A música leva este mesmo nome. Nesta mesma idade, escreveu seu primeiro poema: “Poema para uma deusa morta”.
Tatára foi em busca de seu grande desejo, de ser um grande artista reconhecido nacionalmente muito cedo. Aos 16 anos já viajava para São Paulo e Rio de Janeiro sozinho, apenas com seu violão e um gravador para conquistar seus sonhos. Em uma dessas viagens a São Paulo, num momento de solidão, compôs a música que faz parte do cd “Curitiba Canta Tatára” e interpretada por Gil Gabriel.
“Mãnhê” foi escrita para seus pais que estavam em Curitiba. Nestas idas e vindas, conheceu e conviveu com muitos músicos e artista de nome nacional. Podemos citar Toquinho, Elis Regina, Belchior e Vinicius de Morais, que chegou a declarar em um jornal que havia conhecido o maior compositor do sul do país ao conhecer Tatára.
Seu primeiro disco, “Águas do Futuro”, foi gravado no começo dos anos 80 na antiga Chantecler, junto com seu parceiro de muitos anos, Romano Nunes, o “Cabelo”, e produzido pelo grande maestro curitibano Waltel Branco. Montou o show “Jogo de Espelhos”, do qual também foi extraído um CD lançado em 2007, que lotou por sete noites o Teatro do Paiol.
Tem seis livros publicados e está em fase de produção do sétimo. Tatára sempre lutou pelo reconhecimento da música curitibana. Nos anos 70, produziu o festival Ovolusom. E há cinco anos comanda a Segunda Autoral. Um movimento que começou com um encontro entre cinco compositores, em volta de uma mesa, tocando suas músicas e se divertindo.
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