** João Carlos da Costa
Os feriados nacionais que lembram as datas mais importantes para o País, como o 7 de Setembro e Proclamação da República, no dia 15 de novembro, sempre foram em outras épocas, motivos de grande comemoração, com orgulho e alegria pelos alunos de escolas públicas. Esse espírito de patriotismo era incentivado através da disciplina moral e cívica que fazia parte da grade curricular de todas elas e era ensinada com muita ênfase.
Talvez por ter sido instituída na vigência do regime militar, na qual os valores em relação à pátria eram ressaltados e apresentados de forma mais incisiva. E acredito que só foi retirada por preservar resquícios de um regime ditatorial, que ao mesmo tempo em que cerceava os direitos de liberdade do povo brasileiro, em contrapartida, fazia prevalecer a disciplina, principalmente em relação às questões de cidadania e civilidade. E era essa mesma ordem que as escolas seguiam quando antes de adentrar às salas de aula instruíam seus alunos a perfilar lado a lado, por ordem de altura, inclusive, seguindo a orientação das professoras e, em posição de sentido entoar o Hino Nacional e o do Estado diariamente, e todos deveriam sabê-los de cór e salteado. Isso não era difícil para quem cantava todo o dia e quem teve essa experiência até hoje sabe a letra e a melodia.
Havia sim, um outro clima de festividade. Desde o início de cada ano letivo as escolas públicas já tinham em seus calendários essas datas com previsões de toda a programação. Os ensaios das fanfarras, cujos concursos antecipados animavam não só os municípios pequenos como também envolviam grandes escolas das capitais, se tornaram tradicionais e por muito tempo sobreviveram em algumas escolas técnicas, que tinham algumas das mais famosas. Conhecidas por suas frequentes vitórias nas concorrências e faziam questão de se aprimorar cada vez mais, até para se apresentar com mais brilhantismo nos desfiles, quando das suas apresentações.
Desse antigo modelo, poucas conservam a tradição. E os desfiles de 7 de Setembro atualmente, são marcados pela pompa e galardia das Forças Armadas. Muitas escolas públicas deixaram de participar e as que ainda resistem já não têm o mesmo brilho de outrora, salvo raras exceções.
Percebia-se notória demonstração de espírito patriótico, que era fortalecido ainda mais nas aulas de histórias que sempre deram conotações de heroicas à imagem de diversos personagens nem tão valentes e comprometidos com a pátria quanto foram descritos, porque muitos fatos foram colocados como sagas, mas alguns atos aconteceram apenas por motivos pessoais ou para encobrir situações que somente agora estão sendo reveladas pelos historiadores. Valeu a intenção. Talvez não da forma como eles queriam, mas por muito tempo conseguiram sustentar um sentimento de amor à pátria, mesmo que fictício. Contam alguns que o príncipe D. Pedro I quando proclamou a independência do Brasil não tinha outro interesse senão o de poder governar sem quaisquer tipos de interferências, pois era adepto do absolutismo predominante na Europa, na época. E o Brasil apenas se libertou do jugo de Portugal e não do autoritarismo vigente na época. A liberdade pretendida não visava diretamente ao povo. Tanto que mais tarde, em 1889 a proclamação da república, para que a população tivesse seus direitos e participação na vida da sociedade brasileira.
Os desfiles do 7 de setembro ainda estão se mantendo com toda pompa, principalmente pelas Forças Armadas. Escolas públicas de alguns Estados e capitais e algumas entidades privadas ainda cultivam essa maneira de festejar a independência do Brasil. No entanto, a verdadeira independência, que está diretamente relacionada à liberdade, ainda não foi conquistada. E como falar em independência e liberdade num país onde a população carece de uma vida com mais dignidade, onde perdura a corrupção e o jogo de interesses políticos e não do interesse público, onde direitos à educação, saúde e segurança não são considerados prioritários, tantos são os desvios de dinheiro público nessas áreas. Como pensar em liberdade enquanto prevalece a imoralidade e a falta de ética na administração pública, quando responsáveis pelos bens públicos procuram apenas tirar vantagens dos cargos que ocupam para garantir o seu futuro em paraísos fiscais, numa visível demonstração de patriotismo invertido.
Por isso, embora seja uma data bem lembrada, por ser um dos mais importantes feriados nacionais, o 7 de setembro para boa parte dos brasileiros nada mais é do que apenas um feriado que pode se tornar num feriadão em alguns lugares do País por coincidir com outras datas festivas locais. Muitos garantem os seus pacotes turísticos já no início do ano, com a pretensão de garantir alguns dias de descanso e não pensar em mais nada. E o sentido do 7 de setembro acaba indo para o ostracismo.
É prazeroso assistir em festividades de âmbito mundial quando pessoas de outros países se comovem ao ouvir o hino de sua pátria ou quando festejam a sua independência e defendem a sua pátria com garra. É emocionante ver, por exemplo, a forma como os americanos comemoram o 4 de julho. Enquanto isso, muitos de nós, sequer consegue cantar na íntegra a letra do Hino Nacional e em solenidades apenas o balbucia. Outros fazem mau uso da Bandeira Nacional, por vezes a enrolam no corpo, sem qualquer tipo de respeito. É preciso resgatar o patriotismo, mas isso só ocorrerá a partir do momento em que for resgatada a cidadania, a ética, a disciplina, o respeito ao País e ao próximo, entre outros valores.
** João Carlos da Costa - Bel. em Direito (aprovado na OAB), Bel. Químico, Professor e Escrivão de Polícia.
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